domingo, dezembro 02, 2007

Um cão tem de ser razoável

- Está a puxar-me todo!, disse o senhor para um vizinho. O cão é grande.
- Porque é que estás a puxar-me todo?!
Deram mais uns passos. Mas retrocederam, o senhor abriu a porta e desapareceram no prédio.

sábado, novembro 17, 2007

Voyeurismo?

O filme Corrupção foi o mais visto nas salas portuguesas, com 83.559 na primeira semana de Novembro (dado do Instituto do Cinema e Audiovisual, citado no Público de ontem; o segundo filme mais visto foi Elizabeth: A idade de ouro, com 49.098 passageiros, quero dizer, espectadores). Será o prazer de ver uma obra ficcionada que nos leva a ver Corrupção? Ou será um simples exercício de voyeurismo, para espreitar a vida de "famosos"? Um pouco como se passa com quem compra a autobiografia de Maria Filomena Mónica?

quinta-feira, novembro 15, 2007

SPE volta, estás perdoado!

Observação 1 - Marcelo Rebelo de Sousa disse numa crónica dominical que os espanhóis têm linhas de crédito para comprar terras alentejanas.

Observação 2 - A malta capitalista portuguesa está ocupada a investir em "activos" públicos (parcerias com hospitais públicos, Rede Energética Nacional, águas de abastecimento público).

Observação 3 - Cabe ao Sector Público Empresarial investir na actividade económica - como a agricultura nos vales do Alqueva - e, posteriormente, privatizar as empresas públicas ou propor parcerias com os privados.

Costumes?

A anciã pediu para se sentar na minha frente. O café estava cheio. Sentou-se, chegou a sua sandes, pegou numa metade e ofereceu-me. "É servido?" E esboçou o gesto de decepar uma metade da metade. "Hã muito obrigado, bom proveito". E ofereceu também ao casal francês que estava na mesa contígua.

Numa cerimónia laudatória de Antonio Tabucchi, o escritor italiano quase-português, disse que não percebia dois costumes nas terras lusas: oferecer a garfada de comida que vai algures a caminho da boca, e o tratamento de soutôr, nesta terra de soutôres. O Presidente Sampaio disse, a rir, para ele não se preocupar e tratar as pessoas com abundância de senhores doutores, porque isso é apreciado. Pelo menos foi o que li na altura nos jornais.

quinta-feira, junho 07, 2007

Lisboa e a paisagem...

As eleições intercalares para a Câmara de Lisboa, no dia presumivelmente quente de 1 de Julho, são, no fundo, um reconhecimento da sensatez de Cavaco Silva, quando decidiu tentar a participação de Portugal na União Económica e Monetária, salvo erro em 1992 ou 1993.

Se não tivessemos embarcado no Euro, hoje, provavelmente, Portugal seria uma enorme Lisboa, com trapalhadas atrás de trapalhadas, instabilidade económica e política. É um bocadinho triste, mas é essa a impressão que dá.

A campanha autárquica é patética. Enerva-me a satisfação de António Costa, ante a facilidade de derrotar o candidato do PSD. O slogan de Fernando Negrão ("Lisboa a sério") é assustador, parece que o PSD se permitiu nos últimos anos brincar com a cidade de Lisboa e agora, finalmente, decidiu-se pela seriedade. Não sei o que pensar do Eng. Carmona Rodrigues.

E a Arquitecta Helena Roseta? Lembro-me da exaltação da arquitecta, há meia-dúzia de anos, quando os preços do imobiliário dispararam. Helena Roseta admirava-se disso, visto que as taxas de juro estavam a cair... Portanto se a Arquitecta não compreende a relação entre as taxas de juro e o preço do imobiliário, como é que posso votar nela para a Câmara?

Suponhamos que, por um momento, o PSD esteve bem em retirar o apoio ao Presidente da CML, o que veio a despoletar as eleições intercalares. Nesse caso - virtuoso, diria! - um paisano como eu tem todo o interesse em votar num candidato apoiado por um partido político. Isso é uma garantia, nestas águas turvas camarárias, de que a cidade não é governada por alguém que perdeu a respeitabilidade política. Ora a Arq. Helena Roseta, deputada do PS, não obteve esse apoio, ou seja, não obteve a garantia do PS, de que, aliás, se desvinculou.

E se o PSD esteve mal em retirar a confiança a Carmona Rodrigues?... Talvez o perfume do voto anti-sistema emparceire Lisboa com o trio Oeiras-Felgueiras-Gondomar.

E resta o voto numa espécie de semi-anti-sistema, em José Sá Fernandes, candidato do Bloco de Esquerda.

Dá-me sempre um momento de boa disposição pensar no Dr. José Sá Fernandes.

Em primeiro lugar Sá Fernandes dá-me uma incrível sensação de vertigem. Como é que um advogado consegue, com uma providência cautelar, parar uma obra pública de envergadura na capital, durante meses a fio? É realmente impressionante. Se isso aconteceu em Lisboa, o que é que ele poderia fazer por esse país fora? Imagino que, nas calmas, poderia suspender a actividade de meio país. Isto só demonstra que o Sá Fernandes é preciso na Câmara, pelo menos para dificultar, com a sua competência, as iniciativas de outros advogados engenhosos.

Como é possível a Bragaparques, alegadamente, ter tentado corromper Sá Fernandes, conforme a acusação do Ministério Público aquela empresa? O Dr. José Sá Fernandes?! Mas não é óbvio que isso seria uma iniciativa de insucesso garantido?

Acho que já sei em quem votar.

sexta-feira, abril 13, 2007

Os estudos do Eng. José Sócrates

Parece-me que o Doutor Francisco Louçã esteve muito bem ao observar que, neste affaire da escolaridade do nosso primeiro-ministro, importa ficar esclarecido se o Eng. José Sócrates contou com algum favorecimento da Universidade Independente, ou se a veio a beneficiar enquanto governante. Diga-se de passagem que Louçã voltou a estar bem ontem, ao concluir que considerava o assunto encerrado.

Encerrado ou encerado?!

Fiquei com algumas dúvidas, depois da entrevista de quarta-feira. Tendo concluido o Bacherato em Engenharia Civil no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, José Sócrates veio a ingressar no curso de Comunicação e Transportes do ISEL, tendo realizado 10 cadeiras durante um ano lectivo. Isto significa que José Sócrates não esteve a estudar engenharia civil no ISEL! Portanto, se mudasse de ideias e quisesse voltar ao curso de engenharia civil, teria de se inscrever no respectivo CESE e estudar mais 2 anos lectivos (suponho que 1 ano lectivo do CESE em Comunicação e Transportes pouco terá a ver com 1 ano lectivo no CESE em Engenharia Civil).

Resumindo: com a transferência do ISEL para a UI Sócrates conseguiu substituir um CESE de 2 anos em Engenharia Civil (o que corresponde ao aproveitamento a cerca de 20 disciplinas), pelo aproveitamento a 5 disciplinas (o que, se forem semestrais, corresponde a 1 semestre de estudos). É obra!

A entrevista foi má. As disciplinas feitas na UI foram anuais ou semestrais? José Alberto de Carvalho insistiu absurdamente no facto de Sócrates ter ingressado nos seus estudos na UI sem ter entregue atempadamente o certificado de habilitações do ISEL. So What? Na entrevista o primeiro-ministro mostrou que agiu de boa-fé - o que já era sobejamente sabido - visto que a informação que tinha prestado à UI sobre o seu aproveitamento no ISEL era fidedigna. Ora o que importava que tivesse ficasse esclarecido na entrevista era se a legalidade tinha sido respeitada. E isso não ficou esclarecido. E, aparentemente, a lei obriga a que um processo de transferência seja devidamente documentado antes do estudante reiniciar os seus estudos. Ora, a ser verdade isto, o primeiro-ministro na sua vida privada considera que uma lei pode ser desrespeitada, desde que implique desconfiança na sua palavra. E esta situação faz lembrar a de António Vitorino, que não respeitou a lei numa declaração fiscal, embora tenha pago mais imposto do que se o tivesse feito...

E a entrevista também foi má por outra razão. Os entrevistadores deixaram o primeiro-ministro debitar minutos a fio um discurso agressivo, previamente decorado, como os maus alunos que despejam nos testes pedaços decorados ou copiados dos apontamentos das aulas ou dos manuais (vulgo "atirar barro à parede"). É desgastante ouvir José Sócrates. Só me interrogo se o primeiro-ministro utiliza o mesmo tom quando fala com os seus colegas nos Conselhos Europeus. Se não o faz, por que razão o faz quando se dirige ao eleitorado que o elegeu?!

terça-feira, abril 03, 2007

PT - a tua lição foi ignorada!

"A teoria da agência é fundamental para o enquadramento da corporate governance. Procura-se por diversos meios alinhar os interesses dos gestores com os dos accionistas. Isso pode ser feito através das estruturas e órgãos societários, bem como através de sistemas de gestão e avaliação da performance, incluindo sistemas de remuneração e incentivos."
João Carvalho das Neves, "Governance e teoria da agência", Diário de Notícias de 8 de Novembro de 2006, disponível on-line.

O que é que esta citação tem a ver com a PT e com a EDP? Tudo!

Um exemplo clássico da teoria da agência é o do taxista que trabalha por conta de outrém. Quando o "agente" (o taxista) tem uma pequena receita diária, como é que o "principal" (o proprietário do táxi) pode saber se o agente mandreou ou se se esforçou, mas foi realmente um dia mau para arranjar clientes? É este o problema estudado pela teoria da agência. No caso da gestão empresarial, trata-se de garantir que o conselho de administração (o "agente") vela pelo interesse dos accionistas (o "principal"), a saber, o aumento do valor da empresa. Mas os administradores, além dos salários sumptuários e fantásticos fringe benefits mais ou menos escondidos, podem ter interesse em expandir a empresa, não tanto para criar valor, mas mais como um toy que traz poder.

Olhando para a PT, claro que estou a referir-me à expansão da empresa na América Latina e em África. Será esta expansão consentânea com a criação de valor? Talvez sim, talvez não. Mas os accionistas da PT não precisam da administração da PT para investirem nesses mercados! Se o quiserem, podem comprar acções das empresas locais, ou unidades de fundos de investimentos centrados nesses mercados de telecomunicações. Os accionistas da PT, precisam, sim, é de rendibilidade nos investimentos que fizeram na empresa.

Um mérito da OPA da Sonae sobre a PT foi precisamente o de centrar a empresa nos interesses dos accionistas. Como é que o fez? Com cortes nos custos de administração da empresa e com a promessa de aumentar o pagamento de dividendos. E este aumento dos dividendos significa na prática uma menor retenção dos lucros, e portanto menor investimento no estrangeiro, com capitais próprios "sonegados" aos accionistas.

Um bom exemplo, portanto, o da Administração da PT, na sequência da OPA, que terá satisfeito os investidores da empresa e que por isso rejeitaram a desblindagem dos estatutos da empresa.

E o que acaba de fazer a EDP? Precisamente o contrário! A eléctrica portuguesa acaba de comprar a empresa norte-americana de parques eólicos Horizon Wind Energy. "Segundo um comunicado hoje [27 de Março] emitido pela EDP, o preço a pagar pela Horizon Wind Energy será de 2,15 mil milhões de dólares (1,61 mil milhões de euros) mais a dívida da empresa de 180 milhões de dólares (134,8 milhões de euros), sendo este ajustado tendo em conta os investimentos adicionais da companhia, no montante de 600 milhões de dólares (449,5 milhões de euros). Os peritos calculam que o valor final da empresa deverá rondar os 2,2 mil milhões de dólares (1,64 mil milhões de euros).", lemos no site do Diário Económico.

Resumindo, a OPA que destituiria a Administração da PT foi o incentivo para ela trabalhar para os accionistas. Aparentemente a EDP também precisa do mesmo incentivo...

sexta-feira, março 30, 2007

UI, a D. Branca...

Claro que não há nenhuma relação entre os episódios recentes vividos na Universidade Independente e a D. Branca. Se bem que, pelo menos na aparência, se registem, nos dois casos, alguns prejudicados: os aforradores da D. Branca dos anos 80 e os estudantes da UI nos dias que correm. Ainda no domínio estrito da fantasia há outra aproximação. O Banco de Portugal, aparentemente, assobiou para o ar durantes meses a fio, fingindo que a D. Branca não era uma Instituição de Crédito, sujeita, por isso, aos condicionalismos legais previstos. E o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, ainda aparentemente, pretende que a UI é uma empresa de sabonetes.

sexta-feira, março 09, 2007

Absurdos televisivos?

No rádio do carro ouvi João Adelino Faria, 40 anos, no Rádio Clube Português, a passar a palavra ao jornalista que, num helicóptero, dá conta ao auditório de um acidente na A5, algures entre Cascais e Lisboa, e do acesso razoável ao garrafão da ponte 25 de Abril. Depois João Adelino Faria passa a palavra a outro jornalista, que conta as peripécias do trânsito portuense. Para trás na carreira de João Adelino Faria ficam os serões na SIC Notícias onde, com Ana Lourenço, apresentava a Edição da Noite.

Recapitulemos...

O Pivot de uma estação televisiva de notícias, no horário do serão, deveria ser um profissional com uma carreira prestigiosa, reconhecida pelo público. Jornalista que talvez já tenha feito no passado programas da rádio, que já foi a Marvila entrevistar famílias cujos apartamentos ficaram destruídos com a explosão de um cano de gás. E deveria ter feito milhentas reportagens e entrevistas e, graças a todo esse trabalho, ter ganho uma excelente reputação e confiança do público. E poderia ter sido correspondente durante alguns anos no estrangeiro. Não estranharíamos depois encontrar esse prestigiado jornalista a entrevistar cientistas, economistas ou politólogos, assim como presidentes de empresas, políticos e governantes, no horário nobre da televisão. E faria essas entrevistas com profundidade. Confrontaria os seus convidados com os sucessos e insucessos empresariais, económicos ou políticos de hoje, mas também de há 10, 20 ou 30 anos. E traria à conversa experiências de outros países. E esse pivot nunca regressaria à rádio.

Por tudo o que escrevi atrás, gosto muito do Mário Crespo. E só tenho pena que não existam mais "mários crespos" na nossa televisão.

quinta-feira, março 01, 2007

Ontem fui Jorge

Liguei para o 1896, o funcionário perguntou-me o nome, disse Rui e ele percebeu Jorge, talvez tenha sido para simplificar, como no Gato Fedorento. Senhor Jorge, por favor aguarde. Senhor Jorge o nome não consta. Pois, senhor Jorge, ou a pessoa não tem assinatura ou é um novo assinante. A única hipótese é através da Polícia Judiciária, senhor Jorge. Não há-de ser preciso! Boa-tarde. Boa-tarde, senhor Jorge. Jorge, Jorge, Jorge. É cansativo ser-se Jorge, pelo menos por empréstimo.

sábado, fevereiro 17, 2007

E o Público, ...

... o jornal Público, mudou! Cores, e mais cores, parece quase o Metro! Parabéns!

Avaliar o novo Público é um exercício tão difícil como o seguinte que me diverte nas manhãs de sábado: especular se a primeira página do semanário Sol não daria uma excelente primeira página do Semanário Expresso, e vice-versa.

Há um detalhe, no entanto, que me enerva sobremaneira: aquelas irrelevâncias que invadiram o espaço mais nobre das páginas do jornal, que são o seu topo. Umas vezes são uma espécie de índice, com a chamada de atenção para um artigo que se encontra algures no jornal ("José Miguel Júdice questiona o futuro dos partidos de direita. Opinião, página 45", lia-se ontem no topo da página13), ou uma referência a um artigo que vai sair no jornal no dia seguinte ("Viagem ao terceiro pico mais alto do mundo - Amanhã, no Fugas", lia-se ontem ao alto da página 9), ou uma deixa disparatada qualquer ("Galeria com os monumentos marcantes de Fátima Felgueiras em www.publico.pt", no topo da página 21 de ontem).

O problema daquelas irrelevâncias é o de fazerem ruído comunicacional. A pessoa abre uma página, está pronta para mergulhar numa notícia, e aparecem aquelas coisas pavorosas que prendem a atenção, é puro ruído desconfortável. Por favor, acabem com esse massacre! Ao menos passem aquelas coisas para o rodapé. E não aumentem novamente o preço do jornal - não se esqueçam que actualmente a inflação ronda apenas os 2,5% ao ano.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O Euro: um colete de forças?


(Post publicado originalmente em 8 de Fevereiro de 2006.)
Partindo de um nível semelhante em 1999-2000, as exportações alemãs dispararam nos últimos anos, deixando para trás as francesas e as italianas. Será o Euro um colete de forças imposto aos países menos "performativos"?

Adenda
No Le Monde de 9 de Fevereiro de 2007 Alain Faujas (Un commerce extérieur malade) discute o andamento recente do défice comercial francês: 8,3, 26,4 e quase 30 mil milhões de Euros, respectivamente nos anos de 2004, 2005 e 2006; sendo que o défice francês se agravou com os países europeus, e não com os países emergentes. Em contrapartida a Alemanha registou um excedente recorde de 161,9 mil milhões de Euros em 2006 (o que ultrapassa o excedente comercial chinês de 136,95 mil milhões de Euros). Patrick Artus, ouvido pelo jornalista, diz que "a nossa gama de produtos é demasiado curta, em particular nos produtos de ponta", acrescentando, "a Alemanha tem uma boa especialização em dezasseis produtos, a Suécia em dez, a França em três e a Itália em dois. 70% das nossas exportações de alta tecnologia pertecem ao sector da aeronáutica. Por outras palavras, dependemos demasiado das vendas de Airbus, ao passo que a Alemanha também está presente no vidro, na química e na metalurgia de alto nível". E observa que o número de PME de dimensão crítica (acima de 250 assalariados) é um terço do verificado na Alemanha, o que dificulta a inovação e a correspondente exportação.

Há outra interpretação, mais audaciosa: a de que a evolução das contas externas apenas espelha a terciarização da economia francesa, com a correspondente carência de produtos industriais e de consumo, de alguma forma numa evolução à americana.

Parece-me que há um problema com aquela interpretação: a de que ela não tem a validação do mercado. Se a França mantivesse o Franco, e este se mantivesse forte apesar das contas externas, isso significaria que o mercado continuava a confiar na economia francesa. Mas, com o Euro, fica uma drôle d'ambiance.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Dissonâncias, botas, perdigotas e etc.

O Ministro Pinho na China disse que os salários portugueses estavam abaixo da média europeia. Caiu o Carmo e a Trindade! Francamente, não percebo. Em primeiro lugar é uma pura verdade estatística. Em segundo lugar está de acordo com a preocupação governamental de evitar crescimentos salariais diversos dos da produtividade. Depois não nega o "choque tecnológico" - já toda a gente sabe que o dito "choque" é uma quimera, um desígnio que nos deve alegrar todas as manhãs, é a esperança de um amanhã melhor, em que seremos todos mais produtivos, melhor pagos, e quiçá mais inteligentes e felizes (não queriam, suponho, que o Eng. Sócrates ganhasse as eleições logo com um exercício de coragem, que seria prometer-nos um aumento de impostos, em vez de nos servir uma fantasia tecnológica). A única fraqueza da observação do Ministro reside no facto de, subrepticiamente, lembrar aos seus interlocutores que existem outros países na UE com salários ainda mais abaixo da média europeia, e ainda por cima com uma população mais instruída. Portanto acho que o Prof. Campos e Cunha não tinha razão na entrevista de domingo ao falar numa dissonância cognitiva do ministro, vulgo "a bota não bate com a perdigota".

Na entrevista do Prof. Campos e Cunha ele reconhece que "do ponto de vista económico, o conceito [de centro de decisão nacional] é-me desconhecido" (e estou a citar do blog Elevador da Bica). E então? Poderemos desprezar a nacionalidade do centro de decisão?

Vejamos um exemplo.

Suponhamos que o Governo decidia privatizar a Universidade Nova de Lisboa. Vendia as diversas faculdades, e admitamos que a Universidade Católica adquiria a maioria do capital da Faculdade de Economia da UNL (com um financiamento bancário... espanhol). E que, um ano depois, resolvia realizar uma boa mais-valia alienando a sua posição a uma universidade espanhola. Os doutos senhores professores (lisboetas?), que construiram o sucesso da faculdade nos últimos 30 anos, deixariam de decidir o seu destino. Limitar-se-iam a dar aulas e a fazer investigação. O projecto da faculdade passaria a ser definido algures. Isso seria irrelevante? Será irrelevante, economica e socialmente, reduzirmo-nos ao papel de formigas obreiras?

sábado, janeiro 27, 2007

Horas felizes

Encontrado na Feira da Ladra, em Lisboa, por €0,50.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Boeing vs Airbus

Os gráficos reproduzidos dão conta da explosão de encomendas dos dois construtores, nos últimos anos. E em particular registam a quebra de encomendas da Airbus (o A380 já tem um atraso de dois anos). Há um aspecto curioso nestes gráficos: enquanto as curvas de encomendas e entregas da Boeing se entrelaçam ao longo dos anos, a curva de encomendas da Airbus está quase sempre acima da das entregas.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Dr. Paulo Macedo - uma retrouvaille do Governo

O Dr. Paulo Macedo é um verdadeiro achado do Governo. Em primeiro lugar é um profissional competente, com uma lista de realizações à frente da Direcção-Geral de Contribuições e Impostos, como citou no domingo passado António Barreto no Público (talvez ingenuamente suponho que a competência interessa). Em segundo lugar, subrepticiamente, ajuda o Governo a catalogar de incompetente a Administração Pública - a contratação de um director-geral exemplar não pôde ser feita no seio do Funcionalismo Público. Depois, evidencia que os responsáveis políticos são mal pagos (um Primeiro-Ministro é mais importante para o país do que um director-geral, embora o Dr. Macedo ganhe o quíntuplo do Eng. Sócrates). Fica no ar uma dúvida: quantos "paulos macedos" não estão no Governo da Nação, porque não estão dispostos a salários de "miséria", para além do escrutínio da imprensa e da opinião pública? Por fim, o Governo vai brilhar: com grande coragem e determinação renova o contrato do seu director-geral, apesar das contradições remuneratórias, ou, com igual determinação e coragem, dispensa este quadro do BCP. A entropia é máxima, e o sucesso do Primeiro-Ministro é garantido, como ele gosta.

Acho que a coragem e determinação do Eng. Sócrates deveria pender para a não renovação do contrato do Dr. Paulo Macedo, por uma razão política. A contratação do quadro do BCP lança uma mensagem muito clara no funcionalismo público: a de que o Governo considera os funcionários públicos miseravelmente pagos e não exige a sua competência e dedicação. Ora o país não se pode dar ao luxo de ter 580.000 funcionários públicos desmotivados e apenas um - o director-geral das contribuições e impostos - motivado e competente. Não pode ser! É preciso que toda aquela sabedoria e boas práticas defendidas pelo Instituto Nacional de Administração não se reduzam a balelas para inglês ver, mas que sejam implementadas na prática. Que os funcionários sejam avaliados, que se lhes exija profissionalismo, e que todos os directores-gerais sejam competentíssimos, assim como os demais funcionários.

sábado, janeiro 06, 2007

Não compre laranjas espanholas, ...

... compre o El Pais! Graças à globalização é possível comprar às 8h30 o El Pais nos kioskes lisboetas, custa €1,35 (em Espanha fica por €1). Que fixe, um jornal editado a 500 Kms de Lisboa, numa capital europeia, sem uma palavrinha sobre as tropelias do Eng. Sócrates e das suas batalhas contra os "privilégios"! E claro, o José Manuel Fernandes dá uma ajudinha, ao levar €1,25 pelo seu jornal ao sábado (em Espanha o Público custa €2, que coisa tão pouco competitiva). À sexta-feira é que é aborrecido, porque dá vontade comprar o Le Monde por €1,80 (em alguns locais já cobram €1,90), com um suplemento sobre livros, em vez do El Pais.

Bom ano novo!

Adenda
E hoje, domingo 4 de Fevereiro, terminou a colaboração de Mário Mesquita com o Jornal Público. É pena! O jornal ficou mais pobre, sem a escrita delicada e inteligente do colunista dominical.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Natalão

Depois do Buzinão da Ponte, do Apagão de Portugal e do Arrastão de Carcavelos, a Avenida João XXI, em Lisboa, está pelejada de corbeilles de Natal, prontinhas para serem recolhidas...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

A sociedade das formigas

Não procurem compaixão nestas sociedades. Não há, mesmo que os indivíduos de uma mesma colónia "dialoguem" por via de emissões químicas, danças, gestos, e mesmo sons. Mas estes sistemas de comunicação têm apenas por objectivo fortalecer o grupo, a fim de melhor prosperar. Também não é de admirar que o mundo dos informáticos tenha copiado o das formigas, para estudar com minusculos robots como é que "a partir de actos individuais aparentemente desordenados aparece um comportamento colectivo coerente".

Jean-François Augereau, "Travail, communauté, hiérarchie - Chez les fourmis, un seul mot d'ordre: "Tous pour un, un pour tous", Le Monde do 1º de Dezembro de 2006, artigo de recensão de duas obras: La vie des fourmis, de Laurent Keller (Ed. Odile Jacob) e Elisabeth Gordon e La véritable histoire des fourmis, de Luc Passera (Fayard/le temps des sciences).

quinta-feira, novembro 30, 2006

Legados governamentais

Cenário pessimista
O Eng. António Guterres legou-nos umas engenhosas SCUT. O Eng. José Sócrates lega-nos um aeroporto e um TGV inúteis - tão dispendiosos que para cobrir os custos operacionais e os encargos com o investimento exigem preços estratoesféricos. Para chegar à OTA, partindo do centro de Lisboa, é um calvário chato e caro. Nos antípodas de Barcelona. Lisboa ganha má fama. O TGV anda às moscas. A CP e a Refer são ainda mais deficitárias. Portugal é apenas uma urbe esquisita e fica conhecido como Ilha da Páscoa.

Cenário optimista
O Eng. António Guterres legou-nos umas engenhosas SCUT. O Eng. José Sócrates lega-nos umas visionárias infraestruturas - o Aeroporto da Ota e uma rede de TGV. O TGV é um sucesso, sempre cheio. Madrilenos desaguam continuadamente em Lisboa e no Porto, para negócios e turismo. Todo o sul da Europa guerreia por um lugarzinho no TGV para Lisboa. O trânsito automóvel entre Lisboa e o Porto cai 50%. A OTA é um "Hub" incontornável - Barajas já era.

Seja patriota, seja optimista!

Adenda 1
O Jornal de Negócios traz hoje, 9 de Fevereiro, alguns dados sombrios.
Num artigo de opinião ("Que pólos de competitividade para Portugal?") , Francisco Jaime Quesado, Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, dá-nos conta de um estudo da ONU ("Prospectivas de Urbanização do Mundo, Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas), que prevê o crescimento da população urbana portuguesa, com o aumento da Região da Grande Lisboa dos 3,8 milhões de pessoas em 2000 para 4,5 milhões em 2015 (45,3% do total da população portuguesa), tornando-se a terceira maior capital metropolitana da União Europeia, a seguir a Londres e a Paris, a par do crescimento da Área Metropolitana do Porto, para 23,9% da população portuguesa. As restantes áreas urbanas contarão com uns magros 8,3% da população total, e o mundo rural terão apenas os remanescentes 22,5%. A metropolização da capital, a continuar, traduzirá o falhanço do desenvolvimento das cidades médias e do combate à desertificação do interior, com o correspondente afastamento da Europa das Cidades e das Regiões.

Adenda 2
Na sua primeira crónica semanal no jornal Público, do dia 16 de Fevereiro de 2007, o Prof. Luís Campos e Cunha retoma um aspecto da sua entrevista televisiva, o da necessidade de implementar a breve trecho reformas na Administração Pública (economizadoras...). E termina com uma tipologia dos legados possíveis do Governo em que participou: "Em conclusão, dentro de três ou quatro meses, saberemos como classificar o actual Governo. Se um governo de reformas estruturais, na Segurança Social (regime geral e função pública), nos impostos, nos custos salariais do Estado, na reorganização do ensino e da saúde, no apoio a idosos pobres. Se um governo do congelamento das propinas, do desrespeito pela independência das autoridades reguladoras, da gestão política de empresas públicas, da concentração de poderes, da TLEBS, dos "grandes" projectos injustificados".

quinta-feira, novembro 23, 2006

Génio humano

Etienne Klein no seu belo livro revela a efervescência intelectual no mundo da Física, de 1925 a 1935, com a procura das leis que regem os átomos e a fundação da Física Quântica. O autor mostra-nos os percursos e as personalidades dos sete cientistas retratados - e os seus encontros e desencontros pessoais e intelectuais. O génio humano em todo o seu esplendor e mistério.

segunda-feira, novembro 13, 2006

A eficiência energética da TAP

A frota actual da TAP é constituida apenas por aviões do consórcio aeronáutico europeu (modelos da Airbus: A310, A320, A340, A319 e A321). O último Boeing detido pela TAP foi vendido em 2001, e em 1988 a companhia comprou o primeiro Airbus. Como se pode apreciar no gráfico, a renovação da frota tem sido acompanhada por uma melhoria nos consumos das aeronaves: 4 pontos a vermelho relativos a 4 modelos actualmente detidos encontram-se abaixo da linha de tendência que se tem verificado na TAP - ou seja são mais eficientes do que os seus antecessores. O ponto que está junto à linha refere-se ao modelo A310 (com uma lotação de 201 passageiros, consome 6500 litros de Fuel por hora, o que permite percorrer 900 Km, com um consumo de 7,22 litros por Km). Em 2000 entrou ao serviço da companhia o A321, com muito melhor rendimento (194 passageiros, consumo de 3750 litros de Fuel por hora, para percorrer 900 Km).

O verdadeiro outlier deste gráfico corresponde ao Boeing 8747 (Jumbo jet permitindo 370 passageiros, com um consumo de 15000 litros de Fuel por hora para percorrer 950 Km, o que dá os quase 16 litros por Km percorrido). Entrou ao serviço em 1972 e foi abatido ao activo em 1983. Tinha quase o consumo do Concorde.

A concentração da frota na Airbus há-de ter vantagens, mas suponho que deve diminuir a margem de negociação com a Airbus, quando se realizam encomendas. Seria mais credível a relutância da Administração da TAP, quando negoceia preços com os dois construtores, se a frota contasse com alguns aparelhos Boeing.

domingo, novembro 05, 2006

Euromilhões...

Cento e trinta e um milhões de Euros ficaram por distribuir por um primeiro prémio, acumulando para a próxima semana. A matemática do Euromilhões é simples: existem 76.275.360 possibilidades, todas igualmente prováveis. Quanto mais apostarmos, maior é a probabilidade de acertar. Por cada Euro apostado, apenas 50 cêntimos revertem para prémios. É portanto um mau investimento, muito pior do que as apostas nos Casinos. Em termos práticos é basicamente equivalente jogar €2 ou €5000 - de qualquer forma é preciso uma grandesíssima sorte para acertar. Havendo gosto em jogar, suponho que o ideal é apostar uma quantia que se possa perder sem qualquer mossa - seja isso o valor de um maço de cigarros ou de dois ou três (ou de duzentos ou trezentos...).

Existem algumas curiosidades. Por exemplo, existem apenas 1656 apostas com números consecutivos (como 23 24 25 26 27 + 4 9). Com estrelas consecutivas são ainda mais escassas: 368 (como 23 24 25 26 27 + 4 5).

É muito pouco provável que saia uma aposta com números consecutivos (face a uma qualquer outra com números "desordenados"). Portanto deve ser má política apostar numa dessas chaves: no caso de sair, o apostador deverá estar muito acompanhado de outros jogadores que seguiram a mesma estratégia. Mais vale jogar numa chave "anónima", capitalizando a solidão ganhadora.

quarta-feira, novembro 01, 2006

O tipping point do Governo Sócrates?

Na semana passada foram conhecidas as intenções governamentais de suprimir as pausas na actividade dos professores no Natal, Carnaval e Páscoa, e de aumentar a actividade docente para 8 horas diárias.

É natural que um governo de esquerda dê muita importancia à educação. Um bom sistema de ensino é um bom elevador social, que procura minorar as dificuldades dos jovens oriundos das famílias mais desfavorecidas. A igualdade de oportunidades significa que deve ser possível a cada cidadão enveredar pelo caminho pessoal e profissional que lhe é mais gratificante.

A tarefa dos educadores - Ministério, Docentes, Pessoal Auxiliar - é portanto espinhosa. Sobretudo nos tempos que correm em que a autoridade se esmigalha. Se calhar 90% dos miúdos sabem mais de computadores do que os seus pais, assim como 90% dos pais percebe muito pouco da gramática ou da matemática com que os meninos são confrontados na Escola. O Estado e as Empresas já não são o que eram, o que nos confunde a todos. Ainda por cima a quebra no crescimento da economia portuguesa e a regressão demográfica colocam novos problemas, e põem a nu más opções tomadas no passado recente.

O esforço reformista do governo é portanto bem-vindo. As aulas de substituição, por exemplo, poderiam, em princípio, melhorar o ambiente vivido na Escola. Por exemplo um professor de Matemática convocado para dar uma aula de substituição a alunos do 11º ano, cujo professor de Inglês faltou, poderia chegar, apresentar-se, e confrontar os alunos com um ou dois problemas que versassem matérias do 9º ou 10º anos. Provavelmente até os bons alunos hesitariam na sua resolução, por força do esquecimento e alheamento daqueles temas. Esse momento serviria para reforçar a convivialidade dos alunos e professores com as matérias em estudo. E, com sorte, reduzir algum absentismo dos professores (ver este post).

As medidas do Ministério da Educação, enunciadas no início do post, parecem-me incompreensíveis. Não percebo como é que elas podem ser interpretadas como instrumentos para a melhoria do ensino em Portugal. Parece que o governo quer impor aos professores, à força, o papel do Cavalo na "Revolução dos Porcos" de George Orwell. Ao menos o Cavalo acreditava no seu esforço. A confiança no Ministério da Educação só pode desmoronar-se.

O Eng. José Sócrates deve detestar o ensino em Portugal. Aliás para os seus filhos optou por colégios estrangeiros (ver aqui). Mas será boa política piorar o sistema?

sexta-feira, outubro 27, 2006

"Estás de parabéns, ...

... ganhei um prémio", disse José Cardoso Pires a António Lobo Antunes. "É profundo, não é?", questionou Lobo Antunes na Grande Reportagem. Um bom momento de televisão, apesar de Judite de Sousa.

domingo, outubro 22, 2006

Comentários sobre os comentadores

As crónicas dominicais de António Barreto e Mário Mesquita do jornal Público de hoje são um bocadinho entorpecentes.

António Barreto encontra na autonomia acrescida das escolas relativamente ao Ministério, com reforço da participação dos pais e das autarquias, a panaceia para melhorar o ensino. Será mesmo? A prazo seria possível manter os exames nacionais? Ou cada escola seria uma universidadezinha, impossível de monitorizar?

Para Mário Mesquita o modelo social-liberal da UE, com a primacia do rigor financeiro, dificulta o desenvolvimento. Ora a União Económica e Monetária, com uma moeda única partilhada actualmente por 12 países, significa que cada participante perde a autonomia para definir a sua inflação. A vantagem da moeda única reside precisamente na atenção acrescida que as autoridades nacionais devem dar aos factores essenciais que conduzem ao crescimento e desenvolvimento sustentáveis. Se colectivamente não convergirmos para os níveis de riqueza dos nossos parceiros, só nos resta passarmos a vida a implementar "reformas" à Sócrates.

Adenda
Claire Guélaud recensia hoje (25 de Outubro) no jornal Le Monde uma obra do economista Patrick Artus e da jornalista Marie-Paule Virard, "Comment nous avons ruiné nos enfants" (La Découverte, 164 p., 12,50 €), em que os autores discutem o "pesadelo de 2030": "Leur thèse, solidement documentée, est simple : les politiques économiques et sociales conduites depuis le milieu des années 1970 n'ont pas préparé l'avenir, et à chaque nouvelle élection, il a fallu perdre du temps à en réparer les effets désastreux. Un exemple ? La relance budgétaire de septembre 1975 conduite par un certain Jacques Chirac débouche sur une explosion des dépenses publiques, bientôt suivie par une hausse de la pression fiscale et sociale qui aggravera le chômage. A peine installée au pouvoir, la gauche du premier septennat de François Mitterrand s'engage dans une autre politique de relance par les bas salaires et de hausse sans précédent des dépenses publiques. Elle se soldera par 12 % de chômeurs de plus en un an et s'achèvera par le fameux tournant de la rigueur de mars 1983. "Trente ans de stimulation têtue de la demande, alors que la population active allait diminuer, au lieu de privilégier l'investissement et l'appareil productif (...) ; cela s'appelle tout simplement une folie collective", écrivent-ils en relevant, à juste titre, que les grandes questions de long terme, "négligées depuis si longtemps", ont fini par nous rattraper". E os autores pensam sobretudo no envelhecimento da população, com os seus impactos na produtividade colectiva e na saúde pública. Conclusão: "Qu'on se rassure. Au terme de cette analyse fouillée des contradictions, des faiblesses et des impasses de l'économie et de la société françaises, les auteurs appellent à un sursaut. Mettre l'argent public au service de la croissance, soutenir les entreprises innovantes, réformer l'Etat, investir dans la recherche et l'éducation : autant de pistes indispensables que nombre de nos voisins, et tout récemment l'Espagne de José-Luis Zapatero, ont faites leurs. Faute de les emprunter, nos enfants et nos petits-enfants auront quelques raisons de nous reprocher de les avoir ruinés." (sublinhados meus).

sábado, outubro 14, 2006

Estratégia e transparência

Garry Kasparov esteve em Lisboa e deu entrevistas aos jornais, no seu papel de guru do pensamento estratégico. Explicou a necessidade de conhecer as nossas forças e fraquezas, assim como as do adversário, para conduzir o confronto para um terreno que nos é favorável. "Quando nós ganhamos o nosso opositor começa a ficar ansioso", cito de cor duma entrevista a Pedro Guerreiro e Elisabete Sá do Jornal de Negócios de quinta-feira. O mundo da estratégia de Kasparov é um mundo cão de zeros e uns, ou, para ser mais claro, de jogos de soma nula - se eu ganho o outro necessariamente perde. Não podemos ganhar os dois simultaneamente, embora de forma desigual, como acontece muitas vezes. E é um mundo transparente: o tabuleiro de xadrez mostra bem o confronto em curso. Pelo contrário, no jogo de estratégia africano ouri (Awalé ou woaley) a estratégia ofensiva Krou, em que um jogador acumula sementes numa casa para procurar infligir uma razia no seu opositor, o número de sementes acumuladas fica confuso. Apenas o "acumulador" pode mexer no seu krou, para contar as peças, ao passo que o opositor tem de contar por alto, com o olhar.

O verdadeiro choque tecnológico

É preciso diminuir os hábitos de desperdício. Contudo, a qualidade de vida poderá continuar a progredir. À medida que caminhemos para uma sociedade da informação, cujos valores determinantes serão as ideias, a inovação, o engenho, utilisaremos menos madeira, plástico, aço, borracha. Precisamos de melhores arquitectos, de melhores designs, de melhores sistemas, de fontes de energias renováveis, e sobretudo devemos reconceber os sistemas que desperdiçam a energia.

Al Gore em entrevista a Hervé Kempf ("Al Gore: «La crise climatique menace la civilisation»"), Le Monde, 13 de Outubro de 2006.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Auto-censura

A primeira edição francesa do meu livro foi traduzida da versão americana que eu nunca considerei como completa. (...) Eis portanto a edição não expurgada. Pode dizer-se que a edição americana tinha sofrido alterações arbitrárias? É certo que não. Tratou-se antes de uma restrição que eu me impus e que gostaria de referir: uma censura por antecipação. Esta restrição existe no espírito de muitos escritores americanos que estão conscientes das preferências do público para que escrevem e que também conhecem bem a ideia que têm do nosso público os que o servem.

Pamela Moore no Prefácio à edição francesa revista de Chocolates for breakfast, Julliard, 1957.

terça-feira, outubro 10, 2006

Edmund S. Phelps

Bom, nos anos 1960, e mesmo para trás até aos anos 1930, era sentido pelos economistas que uma polítca monetária acomodatícia é uma forma credível para aumentar o emprego. E inicialmente a doutrina era que não existiriam custos em termos da inflação, e depois o argumento revisto era o da curva de Phillips, em que um ligeiro aumento do emprego apenas teria um pequeno custo, em termos de uma taxa de inflação ligeiramente mais alta. E agora os bancos centrais não pensam dessa maneira, um bom número número de bancos centrais nunca pensaram dessa maneira, mas os bancos centrais já não estão sob a pressão de baixarem continuadamente as taxas de juro para melhorar o emprego. É agora compreendido maciçamente nas economias à volta do mundo que o mercado envia... que se o emprego é estimulado demasiadamente [através da moeda], a taxa de inflação dispara, o que seria inaceitável. Foi gradualmente aprendido que a aceitação de uma taxa de inflação algo mais elevada, não traria realmente um emprego acrescido. Que seria necessário aumentar sucessivamente a taxa de inflação para níveis cada vez mais elevados, para tentar manter o emprego no nível que se pensava (...) possível.


Extracto da entrevista telefónica a Edmund S. Phelps, laureado com o Prémio Nobel da Economia em 2006. A entrevista pode ser ouvida e lida no site da fundação Nobel. O Ex-Ministro Jorge Braga de Macedo, durante o período de desinflação da economia portuguesa dos anos 1990, deu uma vez uma imagem expressiva da dificuldade de baixar a inflação (uma vez aparecida!): a de um estádio de futebol em que os espectadores se levantam num ápice para ver um lance, mas que depois se sentam lentamente, numa espécie de exercício recursivo e surdo de coordenação. Mas claro que é polémico o nível "natural" da taxa de inflação.
Blog Trashed by Mandarin